Onde foram parar os orelhão de Itararé? Não há dúvidas de que está cada vez mais difícil encontrar orelhões nas ruas, especialmente com a popularização dos celulares. E, de acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), ainda existem 23 telefones públicos em toda a cidade de Itararé (SP). Embora o órgão afirme que muitos ainda funcionam, a reportagem da RVS percorreu as ruas de Itararé e encontrou apenas 2 que realizasse chamadas.
Segundo a Anatel, os dados sobre os telefones de uso público são baseados nas informações que as concessionárias – operadoras responsáveis pela manutenção dos aparelhos – enviam diariamente à agência. O órgão admitiu falhas na leitura dos dados e afirmou buscar outras formas de exibição mais seguras e fidedignas.
“Temos observado que essas leituras diárias podem apresentar falhas, dada a grande dificuldade de coleta dos dados por parte das concessionárias em virtude do grande tamanho de suas plantas e até mesmo pela capilaridade de instalações por todo o território nacional. Dessa forma, pode haver uma variação no número de orelhões ‘Disponíveis’ e ‘Em manutenção’”, informa a Agência Nacional de Telecomunicações em nota.
De acordo com a concessionária responsável pela manutenção dos aparelhos públicos em Itararé, os orelhões que não foram encontrados nas ruas pela reportagem se encontram ativos e localizados em áreas internas, como hospitais, escolas e órgãos públicos.
Enquanto algumas pessoas referem-se aos telefones públicos de forma nostálgica, outras nem sequer sabem como eles funcionam. É o caso de Manuele Sales, estudante de 17 anos que, ao ser apresentada a um cartão telefônico, teve dificuldade em descobrir para que servia o item.
Nunca usei um orelhão na minha vida. Não faço nem ideia de como funciona
Manuele Sales – Estudante
Ao questionar outras pessoas sobre a frequência do uso do orelhão, grande parte nem se lembra quando foi a última vez que utilizou tal serviço. “Nossa, nunca uso. Nem lembro a última vez que telefonei de um orelhão”, afirma a auxiliar de loja Taisa Mendes, de 25 anos. Mas, forçando um pouquinho a memória, praticamente todos os entrevistados confessaram que o esquecido orelhão ainda é a saída para casos de emergência.
Foi o que aconteceu com a estudante Daiane Heloisa Chaves, de 22 anos, que um dia precisou recorrer a um dos orelhões instalados na frente da igreja matriz da cidade. “Usei devido uma emergência. É raro isso acontecer”, diz. Ela confessa que só lembrou do equipamento como última alternativa, porque seu celular ficou sem bateria e precisava fazer uma ligação.
Devido a essa e outras situações que, apesar do abandono, o aparelho continua nas ruas para atender as necessidades de toda a população, mas a preferência ainda é o celular. “Não podem retirar todos os orelhões da cidade. Existem pessoas que ainda não têm telefone fixo e nem móvel, além dos casos de emergência que podem acontecer com qualquer um a qualquer momento”, afirma o empresário Alcir Correa.
Em 2015, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) determinou não só que os telefones públicos continuem existindo, como também que é obrigação das concessionárias do serviço torná-los acessíveis a todos.
Reaproveitamento
A Vivo informou que, em março de 2029, readequou a planta de telefones públicos, considerando a demanda dos consumidores e a disponibilização em locais obrigatórios. “Os equipamentos foram recolhidos e reaproveitados para fins de manutenção e substituição em casos de vandalismo, ou destinados conforme as normas ambientais vigentes. Em casos pontuais, a retirada dos componentes dos orelhões pode ocorrer em etapas, devido à necessidade de procedimentos diferenciados para recompor o local onde o telefone estava instalado”, explicou, em nota, a empresa.
Sobre as manutenções dos orelhões, a empresa informou que possui sistema remoto que detecta defeitos nos aparelhos, além de realizar vistorias periódicas e presenciais dos orelhões para garantir o pleno funcionamento dos equipamentos à população.
É possível acompanhar a disponibilidade da planta de Telefones de Uso Público (orelhões) por meio do Sistema Fique Ligado (sistemas.anatel.gov.br/fiqueligado/). No portal, é possível obter informações sobre orelhões instalados em cada estado e município e características individuais de cada aparelho, como número, localização e status de funcionamento.
Em caso de mau funcionamento dos telefones públicos, qualquer pessoa pode solicitar seu reparo, inicialmente realizando contato com a concessionária. Em Itararé, a solicitação deve ser feita à Vivo pela Central de Atendimento, número 103 15. A ligação é gratuita.
Cartões fora de circulação
Não bastasse a dificuldade para encontrar um orelhão em pleno funcionamento ou em perfeito estado pelas ruas da cidade, quem tenta fazer um telefonema também enfrenta dificuldades para adquirir créditos, vendidos em formato de cartão telefônico, que já foi até item colecionável. No centro da cidade, os Correios, antes o principal ponto de vendas, já não oferecem mais o produto. Entre as bancas de jornais e revistas, apenas uma ainda vende este item, na versão de 20 unidades. O preço do cartão é R$ 5 e, de acordo com a proprietário da Banca São Pedro, João Neves Motta, os principais compradores são os idosos.
Origem dos orelhões
Os orelhões chegaram ao ápice no Brasil em 2001, com mais de 1,3 milhão de aparelhos instalados. Hoje ainda é possível encontrar 97.572 telefones públicos no país, sendo que 53.716 funcionam, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Atualmente, as ligações são gratuitas. Mas, nos “anos dourados” do aparelho, era preciso comprar fichas ou cartão para conseguir usar o telefone. E as ligações tinham tempo de ligação limitado de acordo com a quantidade de fichas usadas ou do valor, em reais, carregado no cartão.
Muitos cartões vinham com fotos de artistas, desenhos e até pontos turísticos, virando uma febre entre os jovens da época. A ponto de dar origem aos telecartofilistas, que são os colecionadores de cartão telefônico. É o caso de Walter Moraes Cruz, de 60 anos, que, além de colecionar essas antiguidades pela beleza e pelo interesse, também viu, ao longo dos anos, uma oportunidade de investimento.
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